sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Documentário sobre uma gravidez de risco - "Meninas" de Sandra Werneck





Um documentário que revela o universo cruel de adolescentes brasileiras que engravidaram.

Sandra Werneck juntamente com Gisela Camara, directoras de "Meninas", exibido no Festival de Berlim, falam à DW-WORLD sobre a ausência do pai, o papel da violência e a ingenuidade das adolescentes que engravidam no Brasil.

Segunso Gisela Camara, no Brasil 24% das gravidezes anuais são adolescentes até 19 anos. Os casos de mães entre os 10 e os 14 anos, às quais o documentário "Meninas" é dedicado, perfazem 0,8% das gestações no país. Em termos relativos, acrescenta a diretora, "pode não ser muito", mas em termos absolutos "é explosivo".

Em seguida iremos copiar um artigo que conta com a participação das duas directoras de "Meninas", sublinho que o artigo não foi feito por nós, mas sim por Soraia Vilela, espero que gostem.

"DW-WORLD: No filme, é possível perceber uma proximidade muito grande entre a equipe e as personagens retratadas. Quanto tempo vocês trabalharam para isso? Como conseguiram documentar momentos tão íntimos, sem que ficasse clara a presença da câmera?

- Sandra Werneck: Esse corpo-a-corpo com as meninas, essa proximidade do dia-a-dia, de às vezes ir até as meninas só para conversar com elas, foi um trabalho da Gisela. Isso criou a intimidade. É possível perceber que, no começo do filme, elas estão mais tímidas em relação à câmera. Depois vão ganhando uma intimidade maior e ficam mais relaxadas.
- Gisela Camara: Desde o princípio, falávamos para elas: 'Esse filme deve ser quase um diário da gravidez de vocês. A gente quer saber o que, para vocês, é importante mostrar. É um filme que deveria ter, de alguma maneira, o olhar de vocês'. A Sandra falava muito: 'Imagina uma novela, um filme, o que é legal? Pensem nisso, é um filme sobre a vida de vocês'. Conversamos sobre isso e elas se abriram completamente, o que foi muito legal.



No filme, há uma ausência completa ou quase completa do elemento masculino, do pai. Essa era uma situação que vocês já conheciam antes ou vocês se surpeenderam diante disso?

- Werneck: Isso é um problema brasileiro. Os pais ajudam financeiramente por um tempo, mas acabam arranjando outra mulher, engravidando outra mulher, vendo o filho às vezes. Isso já faz parte da cultura das periferias, acontece há anos.
Quando fomos procurar as meninas, pensávamos que de alguma maneira que iríamos conviver durante algum tempo com os meninos, os pais. Daqui a dois anos, se a gente retormar esse filme, quem sabe se eles ainda vão estar por lá.



No filme, é visível uma boa vontade das pessoas que trabalham no sistema público de saúde. As médicas são cordiais, as enfermeiras simpáticas, os ambientes limpos. Vocês acreditam que a presença da câmera influenciou nesse sentido?

- Werneck: Quando fomos acompanhar o parto da Evelin, por exemplo, não havia roupa cirúrgica para entrar na sala. Era horrível. Muitas dessas meninas, com dores fortíssimas de parto, são simplesmente encaminhadas para outros hospitais.
Algumas já vinham do quarto hospital e não conseguiam ter o bebê. O sistema de saúde, pelo menos no Rio de Janeiro, é péssimo para a questão da maternidade. Mas não queríamos desviar nosso foco, para documentar essa situação.
Havia muitos depoimentos de médicos, muito mais do que o que se vê no filme pronto. Mas eu não quis, foi uma decisão minha. Eu achava que se você começa a colocar esses médicos explicando o contexto, localizando, você tende a fazer um filme quase institucional, um filme encomendado, sem alma, que vai explicando tanto que a essência se perde. E essa essência é, a meu ver, o cotidiano das meninas. Você não tem que explicar, é bom observar.



Talvez o mais estranho nessas meninas e em suas famílias seja um descompromisso com o futuro, com o que vem depois. Uma inconseqüência. Ao mesmo tempo, elas parecem simpáticas ao espectador. Durante o debate que sucedeu à exibição do filme em Berlim, você disse que essas meninas têm "uma delicadeza no solo, mas o subsolo é trágico". Será que isso pode ser entendido como uma parábola do próprio Brasil?

- Werneck: O que se vê são meninas que estão gerando uma criança. Uma costura, outra cozinha, a outra vai comprar roupinhas de neném. É o mundo feminino da maternidade, e este mundo é delicado. O subsolo é trágico porque são meninas que deixam a escola, que não têm futuro, que vão repetir o modelo já existente. Elas não têm condições emocionais para cuidar de um filho e educá-lo.
Para mim, isso é muito trágico. Se a sociedade brasileira não pensar na educação, nesse sentido, daqui a 20 anos você vai ter de novo uma população sem educação, tendo filhos cedo, porque é o único caminho que elas encontram para criar algum papel dentro da sociedade, que é o de ser mãe. Enquanto, na verdade, existem milhões de papéis.



Uma das meninas, a Evelin, diz que gosta de dançar ao som dos tiros. A frase choca quem ouve. Esse foi um comportamento comum entre as mais de 100 adolescentes que vocês encontraram durante o trabalho de pesquisa? Ou ela foi uma exceção?

- Camara: Naquele momento, ela falou isso brincando. A mãe dela tem aquele discurso: 'a Rocinha já foi muito boa de se morar, mas agora tem violência'. Todo mundo fala muito da violência, mas ela cresceu ali. Ela não tem a referência do que era a Rocinha quando ali era bom de se morar. Ela já cresceu com um traficante na esquina com fuzil. Essa é a realidade dela.
Ela afirma essa realidade como uma forma de afirmar o seu tempo. 'Não, isso aqui é bom, eu sou da Rocinha, eu gosto de morar aqui, aqui é legal, aqui tem várias coisas. As pessoas dizem que tem tiros, que é perigoso, mas não é perigoso não, porque esses tiros não me atingem.' É uma certa rebeldia juvenil.
A Evelin era uma exceção nesse sentido. Na verdade, as pessoas que moram nessas comunidades gostam muito menos dos traficantes do que quem não mora, porque elas são absolutamente reféns daquele poder paralelo que governa o lugar onde vivem.
- Werneck: A Evelin acorda todo dia e passa por três caras armados. Quatro vezes por dia tem tiroteio perto da casa dela. O que ela faz com o tiro? Vai se sentir ameaçada todos os dias? Talvez ela use isso para diminuir o medo. Pode ser uma forma mais lúdica de lidar com a situação, para se defender do próprio medo.
- Camara: Na verdade, é como viver em guerra. Nós simplesmente retratamos o cotidiano. O filme não era sobre a frente de batalha. Aquelas pessoas vivem em guerra. Então resta saber como é que você faz desse cotidiano de guerra algo suportável.



Falando em frente de batalha, poderia comentar a reação de um espectador no Festival em Berlim, que disse não ver violência no filme? Será que as pessoas fora do Brasil estão em busca de uma violência explícita no cinema brasileiro e quando não encontram, não se dão por satisfeitas?

- Camara: Esse é um risco que corremos, quando resolvemos fazer um filme que observa. A partir do momento em que você não aponta soluções nem caminhos e tenta conduzir o espectador o mínimo possível, você corre esse risco. O filme fica aberto a interpretações, cada um interpreta como quer.
Aquela pessoa entendeu o filme de uma forma romântica, a gente vê tudo de forma chocante. Aquilo para a gente é extremamente duro, horroroso de se ouvir. Talvez ele queira ver um fuzil para poder entender que o lugar é violento.
- Werneck: São percepções diferentes, mas acho que quem romantiza de alguma maneira é esse espectador, que fica na Alemanha, achando que o Brasil é uma guerrilha. Não é bem assim. Quem mora lá vive aquilo todo dia e sente tudo de forma diferente.



- Soraia Vilela "

Fonte:http://www.dw-world.de/dw/article/0,,1905159_page_1,00.html



Bárbara

A psicologia e a Gravidez na Adolescência.


Os casos deste fenómeno social vêm crescendo a cada dia que passa no nosso mundo.


O psicólogo Armando Neto explica-nos que as jovens não estão preparadas para ser mães tão cedo, levando milhares de jovens a uma esperiência "fora de horas".


O mundo vem assistindo a um crescente número de casos deste tipo e muitas jovens dão á luz quando quando ainda estão numa época em que poderiam estar a desenvolver capacidades cognitivas e emocionais, podendo não estar logo preparadas para o futuro, além de aculmular experiência para entrar num mundo adulto com uma "bagagem minima" para começar a constituir família.


Armando Neto diz-nos também que não é por engravidarem que devem abandonar a ideia de construir um plano profissional, muito pelo contrário, pois muitas adolescentes acabam restritas ao contacto com o lar em que residem, por isso devem devem pensar no seu futuro e não apenas no presente.


Se quiserem tirar mais dúvidas acerca do trabalho do Psicólogo Armando Correia de Siqueira Neto podem contactar selfpsicologia@mogi.com.br .
...........................................................................................................................................................................................................Daniela